Por algum tipo de preconceito inconsciente (irracional e imbecil, como todo tipo de preconceito), hesitei por um tempo em ler "A Paciência da Aranha", título da Coleção Negra da Editora Record, de autoria de Andrea Camilleri. Por tratar-se de um autor estrangeiro que não inglês ou norte-americano e, talvez, sobretudo, porque eu achava que se tratasse de uma mulher! (Mulheres bem sucedidas na literatura policial existem aos montes, eu sei, mas já disse que era um preconceito imbecil, então esqueçamos isso!)
O importante é que quando finalmente me dispus a ler o livro, foi uma agradável surpresa! Andrea Camilleri (que, afinal, é um escritor do sexo masculino) escreve magnificamente, com doses precisas de humor e pleno domínio da trama, numa linguagem simples e narrativa despretensiosa -- mas nem por isso menos elegante -- que lembra muito as aventuras do Comissário Maigret. (Mais tarde, descobri que o autor trabalhou, de fato, por muito tempo como roteirista e diretor de teatro e televisão, produzindo os seriados do Comissário criado por Georges Simenon!) E isso pode ser muito positivo se você está buscando uma fuga dos lugares-comuns aos quais a ficção policial é tão suscetível.
Em "A Paciência da Aranha", Salvo Montalbano, o Comissário de polícia da cidade siciliana de Vigàta e personagem principal dos livros de camilleri, vê-se às voltas com o sequestro de uma jovem. Convenhamos que sequestros nunca foi um dos melhores ganchos para uma trama policial (na verdade, fora os homicídios, poucas coisas o são!)No entanto, a forma como a história é desenvolvida mantém o interesse do leitor todo o tempo, quando não pelo apurado senso de humor de Camilleri, pelas investigações não muito ortodoxas de Montalbano, as excelentes caracterizações dos personagens envolvidos, e uma trama que, de forma imperceptível, vai sendo engenhosamente orquestrada.
Pra resumir, Camilleri me conquistou como escritor de histórias policiais, e não hesitei em iniciar a leitura de seu próximo livro a me cair em mãos, o livro de contos "O Ano-Novo de Montalbano". Recomendo muito!
