Na década de 1920 do século passado, todavia, Dashiell Hammett, ex-detetive particular da Agência Pinkerton, causou uma revolução no gênero. Usando de suas experiências profissionais, Hammett inclui vários elementos novos em suas histórias policiais: a linguagem das ruas, gangsters, mulheres fatais, tiras corruptos e embrutecidos e personagens cínicos. Sua maior obra é O Falcão Maltês, que foi transposta para o cinema em 1941, por John Houston, com Humphrey Bogart no papel de Sam Spade, o deteive criado por Hammett, filme que no Brasil recebeu o título Relíquia Macabra. Logo seguido por outros autores, como Raymond Chandler, James M. Cain e Ross MacDonald, Hammett deu início àquilo que viria a ser chamada de a vertente americana do gênero policial ou, simplesmente, ao hard-boiled, sendo seus autores também conhecidos como through writers. Nas tramas policiais que seguem essa linha, o deteive deixa de ser um mero observador e analista dos fatos para ser jogado no centro da ação: vai às ruas, convive com a malandragem, e, não raro, tem que abrir caminho na base da porrada.
Maldição em Família é uma das primeiras obras de Dashiell Hemmett e uma excelelente oportunidade para entrar em contato com o gênero. Ou para simplesmente curtir uma boa trama de crime, com um ritmo acelerado, muitas reviravoltas e bons diálogos.
Maldição em Família (The Dain Curse; de Dashiell Hammett; Tradução de Rubens Figueirtedo; Companhia das Letras, 264 p.) |
A Trama
Tudo começa como um simples caso de roubo. Oito diamantes de não muito valor foram roubados da casa do cientista Edgar Leggett. O detetive da Agência Continental (que é o narrador e em momento nenhum tem o nome mencionado), que trabalha para a companhia de seguro dos diamantes, é encarregado de investigar o caso.
Ele suspeita do envolvimento de alguém da casa, mas logo depois o corpo de um dos suspeitos é encontrado em um quarto do outro lado da cidade. Longe de colocar um ponto final no caso, esse fato só vem desencadear uma série de revelações a respeito de outros crimes acontecidos há uma década do outro lado do Atlântico, envolvendo Leggett, sua esposa, Alice, e sua filha, Gabrielle. E essa primeira parte do livro, intitulada "Os Dain", nome original de um dos membros dos Leggett, acaba com a soma de mais três corpos e uma solução para o caso que parece satisfazer a todos, menos ao detetive da Continental.
A partir daí, e sobretudo na segunda parte, intitulada "O Templo", fica claro quem é o protagonista central da trama. Trata-se de Gabrielle, a filha de Leggett, outrora Gabrielle Dain. Aqui, ela é internada no Templo do Cálice Sagrado para tratar de sua saúde mental, abalada pela dependência de drogas, pela rcente perda dos pais e pela irracional crença de que é a portadora de uma maldição. O advogado responsável pela herança de Leggett desconfia que os administradores do lugar, o estranho Joseph Haldorn e sua bela esposa, Aaronia Haldorn, não passam de charlatões e, por isso, contrata o detetive da Continental para vigiar a moça. Porém fatos estranhos se sucedem no Templo, culminando em mais cadáveres para o caso. Essa parte, que parece ser totalmente dissociada da anterior, exceto pela presença de alguns protagonistas, também apresenta uma solução fechada em si, envolvendo um elaborado esquema de fraudes.
E assim, começa a terceira parte," Quesada", nome do condado para onde Gabrielle se muda, após os eventos mencinados anteriormente, em companhia do seu agora marido, Eric Collinson. O detetive da Continental recebe um telegrama urgente de Collinson e se dirige para o local, apenas para encontrá-lo já morto, enquanto que a esposa etá desaparecida. Trabalhando ao lado da polícia local, ao mesmo tempo em que o caso vai ganhando repercussão na mídia, o detetive consegue encontrar o paradeiro de Gabrielle. Aparentemente tratou-se de um sequestro que terminou com a morte do sequestrador. Mas o detetive não se convence e decide permanecer no local cuidando do tratamento de Gabrielle (que continua viciada), aproveitando para tentar encontrar uma resposta para os estranhos acontecimentos que cercam a garota, uma vez que todos que vivem à sua volta parecem morrer de forma violenta. Ela não acredita nessa besteira da "maldição dos Dain", e procura uma resposta concreta para todos aqueles crimes, bem como um responsável de carne e osso.
Hammett, com a maestria que lhe é característica, apresenta uma solução que liga todos os fatos, à primeira vista inteiramente dissociados, e consegue manter o culpado acima de qualquer suspeita até o momento da revelação final.
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